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Pará pode se beneficiar com nova rota marítima que ligará Brasil e China
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Publicado em 22/06/2024

A expectativa é de redução no tempo e nos custos. No Amapá, a operacionalização está prevista para outubro.

Divulgação

Rota conectará diretamente o Norte do Brasil ao mercado chinês através do Oceano Pacífico

A recente parceria entre a Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e Universidade de Hohai, na China, intermediada pela Sino-Lac, organização dedicada a promover cooperação econômica e tecnológica entre a China e os países da América Latina e Caribe, pode ajudar a otimizar a logística entre Brasil e China partir de uma nova rota marítima.

 

A iniciativa promete benefícios diretos para a região Norte e novas oportunidades para o Pará.Marcius Nei, representante da Sino-Lac na Amazônia, explica que a nova rota conectará diretamente o Norte ao mercado chinês através do Oceano Pacífico e do Canal do Panamá.

 

O projeto é que a rota siga da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau ao porto de Santana, no Amapá, o que permitiria uma redução de pelo menos 14 dias de viagem comparado às rotas tradicionais pelo Oceano Atlântico e a passagem pelo Cabo da Boa Esperança, que levam de 45 a 60 dias.

 

O representante da Sino Lac defende que “isso facilita o transporte de produtos amazônicos ao mercado chinês e vice-versa, melhorando as oportunidades comerciais para ambos os lados", diz Marcius Nei. Além disso, ele destaca que “essa mudança reduz, além do tempo, os custos com transporte fluvial e terrestre, melhorando a eficiência das operações logísticas e possibilitando uma cadeia de suprimentos mais ágil e responsiva”, adiciona.

 

O agronegócio, um dos pilares da parceria entre Brasil e China, deve ser um dos principais beneficiados. De janeiro a maio de 2024, o Pará exportou US$ 4,2 bilhões para a China. Destes, US$ 934 milhões em produtos ligados à agropecuária. Além disso, a China foi o destino de 48,6% de todas as exportações paraenses, conforme dados do sistema do Comércio Exterior (Comex), disponibilizados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic).

 

Operacionalização

As tratativas para a operacionalização da nova rota estão avançadas, conforme explica Marcius Nei. Segundo ele, a primeira viagem deve ocorrer em outubro deste ano. Na sexta-feira (21), Nei acompanhou a visita de representantes chineses do Porto Gaolan da cidade de Zhuhai, ao porto de Santana. Ele adianta que a previsão é de que a viagem inaugural seja de um navio de cargas de graneis sólidos, com dry containers (secos) e reefers (refrigerados).

 

A rota deve levar 31 dias.Operação no porto de Santana, no Amapá, deve iniciar em outubro.Operação no porto de Santana, no Amapá, deve iniciar em outubro.

 

Embora as tratativas no Pará não estejam no mesmo ritmo do Amapá, Nei projeta que, ainda que indiretamente, a nova rota também beneficia o escoamento dos produtos paraenses, atrelando remotamente ao corredor os portos de Vila do Conde, em Barcarena, e de Santarém.

 

Conforme ele informa, existem tratativas junto à Companhia Docas do Pará (CDP). No entanto, “até o momento, a autoridade portuária do Pará ainda está avaliando a possibilidade de aceitar a parceria”.

 

Parceria tem foco na inovação e na tecnologiaA parceria entre a UFRA e a Sino-Lac vai além da rota marítima.

 

Os principais objetivos incluem o desenvolvimento de práticas agrícolas mais sustentáveis, como o uso de biofertilizantes para apoiar a produção agrícola familiar. "Queremos melhorar a fertilidade e a capacidade de sequestro de carbono do solo, aumentando a colheita e a qualidade dos produtos agrícolas, reduzindo a necessidade de novas terras agrícolas," explica Marcius Nei.

 

A nova rota fará com que os biofertilizantes cheguem mais rápido ao Pará. Para Herdjania Veras de Lima, reitora da UFRA, será uma mudança significativa, já que nas rotas existentes da China ao Brasil, os produtos chegam principalmente ao porto de Santos, em São Paulo.

 

Segundo ela, a nova rota será "mais curta pelo Pacífico”. Além disso, “trará biofertilizantes produzidos na China, que serão usados aqui (Pará), e retornará com outros produtos brasileiros".

 

O objetivo é fortalecer o desenvolvimento econômico e sustentável. "O Pará possui cerca de 43 milhões de hectares de área com solo degradado. Nosso foco é desenvolver tecnologias para ajudar na recuperação dessa área," ressalta Nei.

 

Além do impulso econômico, ele diz que a parceria visa melhorar a renda dos agricultores, aumentar a produção e a qualidade dos produtos agrícolas, e proporcionar acesso a programas de capacitação para as comunidades locais.

 

Nei destaca que os testes com biofertilizantes estão em andamento. "A ideia é pesquisar como funciona a cultura do milho em diferentes tipos de solo amazônicos e com diferentes níveis de aplicação do biofertilizante. A área de teste foi cedida pela Coopernorte e já temos resultados parciais demonstrando que o biofertilizante trouxe melhorias nutricionais e biológicas para o solo de áreas degradadas, além de aumento na produtividade do plantio", afirma.

 

Expertise

O intuito do projeto é aumentar o rendimento das colheitas em mais de 10% e melhorar significativamente a qualidade do solo. Os próximos passos incluem a publicação dos resultados da pesquisa atual e a realização de mais estudos com diferentes tipos de plantios.

 

Além disso, está prevista a realização de intercâmbios entre alunos da UFRA e da Universidade de Hohai, fortalecendo ainda mais a cooperação internacional.Marcius Nei acrescenta que a Universidade de Hohai, número 1 do mundo em engenharias hidráulicas, já projetou obras como a hidroelétrica de Três Gargantas e a ponte Hong-Kong-Macau-Zhuhai, a maior do mundo.

 

"A expertise da Hohai pode ser de grande serventia para os grandes projetos estruturais no Pará", diz Nei, reforçando a importância da colaboração internacional para o desenvolvimento de infraestrutura sustentável na Amazônia.

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